CONTEMPLAÇÕES INACIANAS (Nº 7): A linguagem da alma

Pe Manuel Eduardo Iglesias, sj

Quando tomei conhecimento do livro “Imaginative Prayer,” enviei cópia para uma amiga médica, psicoterapeuta e conhecedora das espiritualidades inaciana e carmelitana. Transcrevo sua resposta:

Passando os olhos pelo livro, achei um tesouro, e não só para crianças. A oração imaginativa (ou imaginação dirigida, ou imaginação ativa) a entendo como o centro da contemplação inaciana e como a mais poderosa forma de oração. Acredito que em grande parte esse é o motivo da força da oração inaciana. Porque a alma não fala a língua das palavras, e sim a língua da imagem e da emoção (os sonhos, por exemplo…). E mesmo as palavras que nos tocam poderosamente o fazem porque geram dentro de nós uma emoção, uma imagem. (Assim as parábolas de Jesus, por exemplo, cheias de impacto sobre nós). Se eu me ponho a pensar, a meditar, é uma boa oração. Mas nessa oração ainda é o ego que está no centro, ainda são as minhas coisas que são colocadas em marcha. Mas quando eu “recebo” de fora de mim uma emoção, sei que fui visitado por Deus. Um Deus que visita! Esse é o centro da oração imaginativa. Tenho certeza de que esse material é muito importante, e há muito tempo fazia falta. Um detalhe importante é que, na minha opinião, não é um tipo de oração que toda e qualquer pessoa possa dirigir imediatamente. O ponto principal é que seja uma pessoa que ore, ela própria, com imagens. Mas o Espirito inspira. 

A apreciação da minha amiga é iluminadora. Ela mostra que santo Inácio se adiantou ao que hoje é o ABC do marketing atual que se serve, não tanto de palavras, como de imagens que provocam emoções. A imagem toca o profundo da gente e a inclina a comprar o produto anunciado. Os filmes tocam o profundo e emocionam o espectador.  A catequese dos Santos Padres usava a imagem para introduzir a pessoa no mistério e ser tocada por ele. Os sacramentos da Igreja quando bem conduzidos tocam o coração e avivam a fé dos participantes. As expressões da Arte e a beleza aproximam de Deus.

Após ter verificado qual é a linguagem da alma, passei a admirar, em primeiro lugar Jesus, o Verbo encarnado, como a imagem visível do Deus invisível. Contemplar Jesus é fonte de vitalidade. Os evangelhos estão cheios de imagens e sinais¸ sem esquecer as parábolas que são palavras carregadas de imagens tocantes como as parábolas do Reino, o bom samaritano e o pai misericordioso. Mas não só os evangelhos utilizam a linguagem da imagem, a Bíblia toda é assim. É bom ter presente a força da imagem na evangelização, na catequese e no testemunho de vida. As pessoas estão cansadas de palavras bonitas e ocas quando elas não são confirmadas no comportamento diário.

Jesus e os santos, eles sim, tem credibilidade! 

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