Introdução

No passado, talvez você e eu tenhamos olhado o exame como um tempo para nos examinarmos a respeito de nossas faltas predominantes ou para verificar como estamos crescendo numa virtude especial. Não é um mal. Porém, não é esta a intenção verdadeira de Santo Inácio de quem herdamos esta prática e nos foi ensinado no noviciado.

Seu verdadeiro objetivo é ajudar-nos a tomar conhecimento da dimensão de fé em nossa vida, colocando-nos com nosso verdadeiro “eu” diante de Deus. Ele está constantemente atraindo-nos para si, por um caminho único e íntimo.

O exame é um exercício orante diário de discernimento, ajudando-nos a responder ao convite amoroso de Deus em todo o decorrer do dia. Ele nos ajuda a encontrar Deus todas as coisas.

Trata-se, pois, de um Exame de Consciência Espiritual, um exercício de consciência de meu atual relacionamento com um Pai amoroso, que nos faz convites para nos achegarmos mais a ele.

Diariamente, o Senhor nos está convidando a aprofundar e desenvolver nossa identidade pessoal. Cada dia, como cristão que sou e como pessoa de vida consagrada, este exame me ajuda a captar mais de perto sua identidade. Tanto quanto me for possível neste momento.

1. Um coração que discerne

O exame é prece e se relaciona com minha oração pessoal diária. É na oração do dia que o Senhor se revela gradualmente a mim, juntamente como o mistério do seu Plano para todo o universo em Cristo. É a oração que com seus convites interiores ordena minha vida e assim a transforma. Daí a necessidade de estar atenta a estes convites que me apontam Jesus e seu Plano como critério de ação no cotidiano da vida.

1.1 – Agradecimento

Sendo o exame um exercício de oração, nada mais indicado do que iniciá-lo com ação de graças. Deus é bom. Nada possuo, nem mesmo me possuo. Estou diante de Deus como alguém que foi presenteado\a por ele. Tudo é dom: o ar que respiro, os bens materiais, a vida, a fé, as graças, etc. Portanto, neste inicio do exercício, vou agradecendo a Deus especificamente por seus dons nas horas do dia que já transcorreram. Assim, vou aprendendo a possuir uma habitual consciência de que Deus é todo Bondade. Posso perguntar-me:

  • O que aconteceu hoje pelo que eu devo agradecer?
  • Percebi os seus dons?
  • Toda a minha vida se está tornando um “muito obrigada” a Deus?
  • Em que encontrei mais dificuldade em agradecer?

1.2.- Pedir a luz do Espírito Santo

Somente Deus me conhece completamente; por isso só Ele pode me dar o que necessito perceber em minha vida. É, pois, importante que eu peça a seu Espírito que me dê uma crescente inteligência e luz do mistério que eu sou. Posso refletir: estou me deixando conduzir pelo Espírito Santo? Estou aberta a todos os canais pelos quais ele me fala?

Permiti que ele me dirigisse nos acontecimentos esta manhã ou deste dia?

Faço uma oração, invocando o Espírito Santo.

1.3 – Exame

No passado, muitas de nós, revivíamos, neste momento, nossas ações do dia e
contabilizávamos nossas derrotas e vitórias. Isto é justamente o que não devemos fazer? Nosso real interesse aqui é a FÉ e o que está acontecendo para nós e em nós desde o último exame. Assim as perguntas que podem ajudar são como estas:

— Senti-me chamada pelo Senhor, em algum momento neste período, através de uma pessoa, de uma co-irmã, de um acontecimento, de um bom livro, de uma manchete de jornal, da natureza? Para que ele me chamou?

  • O que aprendi hoje sobre Ele e sobre seus caminhos no decorrer de meus afazeres?
  • Como O encontrei nos medos, nas alegrias, no trabalho, nos mal-entendidos, no sofrimento?
  • Como sua Palavra agiu em mim hoje? – no meu tempo de oração? – na Escritura, – na Liturgia? – nos outros momentos?
  • De que modo encontrei Cristo nas pessoas de minha comunidade? Levei Cristo a elas?
  • De que modo fui sinal da presença e do amor de Deus para minhas co-irmãs, amigos, para as pessoas com quem trabalho ou com as que hoje encontrei?
  • Senti-me levada a estar isolada, desencorajada?
  • Como me tornei mais e mais consciente da obra de Deus na grande igreja, em meu país, nos outros países do mundo? Como tudo isto me tocou?
  • Tive a certeza de estar mais consciente de ser amada como também de minha pecaminosidade que faz parte de minha condição humana?
  • De que área do meu ser Jesus ainda não é o Senhor?

Importante é considerar e perceber em que ponto o Senhor está me chamando à conversão e não tanto ocupar-me com um ponto que eu escolhi para me trabalhar. Isto é deixar-se conduzir pelo Espírito que ora em nós.

Observação: É prudente examinar-se durante algum tempo a respeito de apenas um ou dois aspectos acima indicados, passando depois para outros.

1.4 – Arrependimento

Uma crescente consciência de minha falta de resposta ao amor, pode levar-me ao arrependimento e à admiração de estar sendo constantemente levada à renovação; a um sentido profundo de alegria e gratidão; a uma crescente desconfiança de mim mesma e firme confiança em Deus; a uma humilde consciência de minha fraqueza; a uma robusta fé de que estou sendo progressivamente convertido de “pecador em filho de Deus”.

Nestes pontos posso expressar meu arrependimento por ações específicas que tenham sido respostas inadequadas a seu amor e à sua obra em meu coração.

1.5 – Esperançosa resolução para o futuro

Como olharei o futuro após percorrer este itinerário do Exame Espiritual? Quanto mais eu confio no Senhor e deixo que ele conduza minha vida, tanto mais experimentarei verdadeira esperança sobrenatural. Crescerei no seguimento de Jesus através de minhas fragilidades.

Assim seja!

Deixo o passado para traz e com todo o meu ser continuo correndo
Para minha meta. (Fl 3,13)

Síntese de um artigo Pe. George Aschenbrenner, SJ feito por ir. Fátima Maldaner